O novo prefeito de Barbacena, vereador Carlos Du, foi eleito como elemento
surpresa após uma campanha apagada na qual pouco apareceu e
praticamente não foi criticado pelos demais concorrentes. Na véspera do pleito,
ancorado por segmentos religiosos católicos e evangélicos, seu nome emergiu
como terceira via de uma disputa que seguia polarizada entre outros dois
postulantes. Curiosa aliança esta que se formou entre religiões cristãs na
cidade, cujas proximidades já ocorrem em países europeus. Em Portugal, por
exemplo, católicos, anglicanos, metodistas, presbiterianos e ortodoxos
passaram a aceitar, de forma oficial desde 2014, pessoas batizadas por
qualquer uma destas igrejas. Aqui entre nós barbacenenses, entretanto, o
protocolo não foi teológico mas político.
Na sua ascensão vitoriosa na última semana da campanha eleitoral o que mais
se ouvia nas ruas era que ele seria “o candidato dos padres”, “dos pastores” e
das “igrejas”. Venceu num quadro de extrema pulverização partidária, com a
menor representatividade de votos da história da cidade, com pouco mais de
12% dos escrutínios. Isso significa que o novo prefeito governará num
ambiente no qual 88% dos eleitores não lhe confiaram o voto.
Houve mesmo um tempo na história ocidental em que os reis absolutistas da
idade média detinham suas coroas justificadas pelo chamado “poder divino”.
Se eram reis, tudo acontecia “por vontade Deus”. E foi assim por séculos, com
os reis impondo suas vontades aos vassalos e apoiando a inquisição da igreja
queimando os hereges adversários em fogueiras, também por vontade divina.
Deus era “usado” para dar um jeito aos desafetos políticos dentro e fora das
igrejas. Mas isto é história passada. Agora os tempos são outros. Mas a
atualidade ainda guarda resquícios da velha ordem, com governos teocráticos
pelo mundo, como o do Irã, onde os dirigentes religiosos (aiatolás) administram
o país sob a égide do alcorão (escrituras mulçumanas).
Embora sem oposição declarada, e com o cenário político amplamente
favorável - talvez fruto de sua postura moderada como vereador e no período
eleitoral - o novo prefeito está tendo muitas dificuldades para costurar apoios e
montar sua equipe de governo. Esta inaptidão político-administrativa começa a
gerar desconforto em vários setores da sociedade e em grupos políticos que
aguardam uma sinalização clara para o avanço das conversações e
entendimentos. Estão preocupados com o futuro da cidade, cujos problemas se
acumulam.
“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” respondeu Jesus
aos fariseus e herodianos. Passadas as eleições e com o encargo de governar
a cidade, o momento exige do prefeito eleito muito mais que orações, cultos e
missas como ensinou o próprio filho de Deus entre nós. Os setores religiosos
que tanto se articularam nos bastidores para cabalar votos ao candidato Carlos
Du necessitam agora movimentar-se para viabilizar sua gestão terrena. Para
além das rezas, precisam agir também no mundo material das pessoas...
As crenças religiosas por si só não resolverão os problemas causados pelo
coronavírus, como no passado não resolveram “a peste negra”, a “gripe
espanhola” e outras tantas pandemias. Também queimar em fogueiras os
críticos não seria mais cabível... O funcionamento da saúde, a promoção da
educação, as demandas da infraestrutura, do funcionalismo, da cultura, da
economia, das empresas e dos desempregos requerem atitudes práticas.
Haverá necessidade de ações humanas, de iniciativas concretas das pessoas
e o engajamento de segmentos sob a liderança de um chefe de governo
terreno - de carne e osso, e não de um profeta.
Madre Tereza de Calcutá, canonizada pelo Papa Francisco em 2016, ensinava
que “as mãos que fazem valem mais que os lábios que rezam”.
Queira Deus que o labor e a ação sejam incorporados ao portfólio político do
futuro prefeito, para que além das missas e orações ele passe também a cuidar
das coisas terrenas...
Marquês do Monte Alto
Acompanhe também: